quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Punks e tribos estranhas



Rolava o ano de 1993. Eu, calmamente andando por Nagoya, capital da província de Aichi, Japão, subitamente fui surpreendido por uma imagem espantosa: um jovem japonês, completamente vestido de preto e tarrachas, com um cabelo moicano de talvez 20 centímetros de altura. Ele vinha caminhando, e seu andar não era de punk, mas de japonês mesmo. E sorria um riso desafiador, de saber-se diferente numa terra de iguais. Sid Vicious ficaria de cabelo em pé, literalmente, ao ver os punks japoneses.

Brasil, anos 80

Somos filhos e netos da revolução, geração coca-cola. Papai curtia tropicalistas e bossa nova, e nós paralamas e legião. O movimento punk praticamente inexistiu no Brasil. A ditadura não permitiria, e como a censura era brava, ficou difícil entrar Sex Pistols e amigos. Talvez o gosto musical brasileiro também não estivesse muito a fim de três acordes martelados por uma bateria enfurecida e vozes beirando ao desafino. Fato é que, até os anos 80, a coisa mais rebelde que rolou aqui era o movimento hippie e suas variantes mutantes, num balaio de gato que ia de Raul a Secos e Molhados. Entender o punk e os jovens ingleses e alemães que se influenciaram por este movimento é um exercício e tanto.

Punks ingleses e alemães

Estes são os punks de verdade, pelo menos os que fundaram o conceito e pregaram a anarquia. Não ao trabalho, não ao governo, não às instituições, não ao moralismo, não às regras, não à estética. Os amigos que vivem na Inglaterra e Alemanha ainda encontram remanescentes deste grupo que, apesar de parecerem nocivos e perigosos, eram, geralmente, tranqüilos e pacíficos. Punk nasceu da falta de perspectiva e relativa miséria que a classe operária inglesa passava nos anos 70, palco de crises intermináveis. Um punk legítimo não trabalhava, usava drogas em excesso, transava a vontade, pedia dinheiro nas ruas, morava em casarões e prédios abandonados. Era necessário coragem para ser um punk legítimo, assim como era necessário coragem para ser um hippie legítimo.

O punk foi filho de uma sociedade que se modernizou, enriqueceu, deu oportunidade para quase todos, seguro e benefícios sociais, e mesmo assim era desumanizada.

Nós, brasileiros que vamos para o exterior, logo percebemos que, no primeiro mundo, temos segurança, benefícios, dinheiro no bolso e possibilidades de comprar as modernas bugigangas. E logo percebemos que isto não completa a nossa existência. Virar punk é uma solução à este vazio? Depende de cada um. Mas deixo uma pergunta ao amigo que lê estas linhas. Se a segurança do primeiro mundo não completa o vazio existencial que sentimos, o que completaria?


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