O filme ta em Berlim, e lá, segundo a crítica, é amado por uns, odiados por outros. Dizem ser fascista, por defender o lado do policial aparentemente honesto, mas que julga, mata, fere e tortura. Dizem o filme ser americanizado, com sua câmera alucinante lembrando algo do Spyke Lee, Cidade de Deus, Tarantino, e daí vai. Não vou discutir estética, primeiro porque não entendo, segundo porque acho um saco discussões estéticas, já que estética depende dos olhos e sensibilidade de quem vê.
Primeiro ponto é pacífico: não existe glamour no filme, e os mocinhos não são bonzinhos, os bandidos muito menos e a classe média aparece como o grande financiador do tráfico. Aí está um ponto interessante: quem é o maior consumidor de drogas do mundo, se não os Estados Unidos e a Europa? E o meio cinematográfico e artístico, incluindo nisto atores, diretores, roteiristas, empresários, músicos, cantores, etc., tanto aqui mas principalmente no exterior, é costumeiramente um berço esplêndido de pó branco, êxtase e pílulas. Não esqueço a cena que vi recentemente da extraordinária cantora Amy Winehouse sair do palco, demorar um ou dois minutos e voltar limpando o nariz com as costas das mãos. É, nossa linda juventude européia e americana, enfiada até a laringe no pó produzido na Colômbia, comercializado pelo Brasil e vendido no primeiro mundo. Então posso dizer com toda a segurança do mundo: este filme está incomodando e muito os gringos. Porque eles sabem que estão financiando o tráfico. Não é só a classe média brasileira – mas, proporcionalmente, é muito maior o consumo fora daqui. Na realidade, brasileiro se entope de pinga. Só bacana usa pó. E no primeiro mundo? Consome-se pó e tudo o mais que o dinheiro pode pagar. E não estão nem aí se morre neguinho no morro, se a situação corrompe não só polícia, mas políticos, médicos, empresários e tudo o mais que anda junto com o tráfico. Porque está aqui, no Brasil, e não na Europa. Isto não é apologia nem contra nem a favor das drogas, do Brasil ou da Europa. É uma apologia contra a hipocrisia de achar que, como o meu jardim está bonito, não tenho nada a ver com o do vizinho, onde, na calada da noite, despejo os restos do esgoto que sobra em casa...
É amigo, é osso duro de roer...
Um comentário:
oi
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